terça-feira, 19 de julho de 2011

Porque este Sr. escreveu muito bem. E eu gostei.




Um país não é lixo

Por:Luís Campos Ferreira, Presidente da Comissão de Economia e Obras Públicas

As palavras têm um peso. Em inglês, em português, em grego ou em amárico (a língua da Etiópia), "junk" quer dizer lixo, e lixo, como toda a gente sabe, é lixo. E lixo não é nome que se chame a um país, como não é nome que se chame a uma pessoa. Imagine que o seu filho tem 1 a uma disciplina nas suas notas escolares. Deixa de ser um aluno e transforma-se em lixo? É assim que o professor o deve classificar?

Afinal, ele está em dificuldades, não aprendeu, não estudou, porventura não se esforçou o suficiente, está no fundo do fundo da tabela. Tudo isto faz dele lixo? Ou então imagine que é um pai ou uma mãe e que, por circunstâncias várias, a sua família está a viver uma situação financeira particularmente difícil, sem capacidade para honrar os seus compromissos e que precisa de ajuda. Deixa de ser o António ou a Maria e passa a ser lixo? Deixa de ser o pai ou a mãe e passa a ser lixo? Pois é isso que as agências de rating andam a dizer-nos. Isso diz-se às pessoas?

Chamar lixo a um país - seja ele qual for - está muito para além do insulto ao patriotismo de cada um. É muito mais do que isso. É um assalto à dignidade do país. O que é o mesmo que dizer à dignidade dos cidadãos, à dignidade humana. Porque um país é, antes de mais e acima de tudo, as suas pessoas. Um país não é uma empresa cuja performance possa ser analisada a régua e esquadro e, no fim, avaliada com uma terminologia de sarjeta. Um país não fecha as portas se as coisas correm mal. Empobrece mas não acaba. Cometeu erros? Tem de os corrigir. Mas não é lixo.

Não, um país não é lixo. Nem o nosso, nem a Grécia, a Irlanda ou outro qualquer. Nem os Estados Unidos, de onde são originárias as agências de rating que nos mimam com estes qualificativos nada compagináveis com o quadro de direitos fundamentais onde todos nos devemos mover. Nem os mais pobres dos pobres dos países são lixo. A Etiópia não é lixo. As crianças etíopes, que nos habituámos a ver nas reportagens televisivas abandonadas à fome e ao sofrimento, não são lixo. Mesmo quando as moscas as rodeiam como se elas o fossem. Mesmo que sejam invisíveis no rating da humanidade. Não, as pessoas não são lixo. Não, um país não é lixo. Não, não podemos tolerar o vale tudo como a regra magna para tudo. Lixo??? Isso não se diz às pessoas.

(in Correio da Manhã)

by N.

2 comentários:

Anónimo disse...

TAL E QUAL!
primaS

Pendientes & Louboutins disse...

escreveu realmente muito bem.
parabéns pelo blog:)